A origem de uma das maiores trilhas sonoras do cinema
Dizer que John Williams criou uma das maiores trilhas sonoras do cinema em Star Wars até parece pouco. O que o compositor criou para a saga de George Lucas é um dos principais motivos da grandiosidade da franquia, afinal, assim como qualquer fã de cinema sabe citar “que a Força esteja com você”, é difícil achar alguém que não saiba cantarolar os temas da trilha.
Foi anunciado esta semana que Williams está confirmado nos créditos do Episódio IX, esperado para 2019. Desde 1977, o compositor esteve envolvido em todos os filmes das três trilogias – e apesar de não ser o responsável da trilha no derivado Rogue One, diversos trechos das suas composições foram incluídas no longa.
O que pouca gente sabe é que George Lucas não queria um compositor original para Star Wars. Ele imaginava um filme trilhado por músicas clássicas, assim como Stanley Kubrick tinha feito em 2001: Uma Odisseia no Espaço. O mérito da introdução de John Williams ao projeto veio de Steven Spielberg, que usou o trabalho de Williams em Tubarão, no ano anterior, e recebeu o Oscar por melhor trilha sonora. E apesar da história deixar parecer que sem Spielberg a trilha de Star Wars perderia força, a visão de George Lucas teve tanto peso quanto; quando John Williams entrou para o projeto, a direção artística do criador da saga teve peso, e muito do que se ouve na trilogia original é baseada enormemente em músicas clássicas.
Ao contratar Williams para Star Wars, George Lucas foi claro ao explicar porque a trilha precisava ser grandiosa e ocupar espaço na narrativa: “Eu disse, estou basicamente fazendo um filme mudo e preciso que tenha a disciplina do jeito que a música de filme mudo é criada”. Ele explica: “É feito de um jeito bem antiquado, como filmes mudos, de maneira que a trilha quase que conta a história. Muito do conteúdo emocional do filme é carregado pela música, quase tanto quanto as cenas” [via FMS].
Com o direcionamento de se inspirar nos clássicos e nas trilhas da era de ouro de Hollywood (com compositores como Erich Korngold e Max Steiner, maiores nomes das trilhas nos anos 40 e 50), Williams combinou o estilo com trabalhos clássicos de compositores renomados, principalmente Gustav Holst, Igor Stravinsky e Richard Wagner. Se você já parou para ouvir as influências de Williams, chega a ser até bizarro quanto o compositor pegou emprestado.
A influência de Wagner em Williams é mais metódica, por trazer um elemento específico para a composição; a criação de leitmotifs. A técnica de composição que foi introduzida por Wagner no ciclo de óperas O Anel do Nibelungo, consiste em criar pequenos temas que são recorrentes em uma narrativa, que remetem a personagens ou sentimentos. E apesar de existir no cinema desde 1940, Williams popularizou a técnica ao reintroduzi-la em Star Wars de forma clara e abrangente. Cada um dos personagens ou cenários tem um tema próprio e marcante: é por causa de Wagner que Darth Vader tem o seu histórico e inconfundível tema, por exemplo. Sabendo disso, faz sentido que Solo – A Star Wars Story tenha como compositor John Powell mas tenha escalado John Williams para criar o tema do personagem principal.
Williams usa referências musicais visíveis em praticamente todas as trilhas. A mais recente notada, por exemplo, foi a inclusão de um trecho de Aquarela do Brasil no meio de Os Últimos Jedi. Mas o compositor fez isso desde o primeiro filme e de forma evidente em temas históricos. Neste sentido, a primeira influência musical clássica que vem à mente é de Gustav Holst, o compositor inglês que criou The Planets, uma suíte orquestral de sete movimentos dedicados aos planetas do sistema solar. A referência para a Marcha Imperial de Star Wars fica bem clara no movimento de Marte. Ouça a comparação:
A homenagem de Williams a Erich Korngold também é bem perceptível. O tema principal de Star Wars, logo de cara, traz um trecho emprestado da trilha de Em Cada Coração um Pecado, filme de 1942. Este vídeo de comparação deixa as faixas lado a lado para entender bem:
Estes são apenas alguns exemplos. As trilhas de Star Wars trazem referências a Mozart, Tchaikovsky e Stravinsky. Se você buscar pelo YouTube, inúmeros vídeos surgem comparando o trabalho de John Williams com suas próprias referências, mostrando de onde vieram cada um dos trechos usados pelo compositor.
Claro que as homenagens não são acidentais. Dizer que John Williams tem menos mérito por ter baseado temas em músicas clássicas não se sustenta; grande parte do seu crédito vai da seleção ao desenvolvimento e é claro, à criação, e capacidade de entender as referências e trabalhar em cima delas de um jeito inovador. O que John Williams fez é tanto um aceno aos clássicos quanto uma homenagem a uma era de cinema, e a combinação dos dois foi o que resultou em uma das trilhas sonoras mais aclamadas da história.
Fonte: Omelete