Resenha: Os Últimos Jedi, “Uma digna passagem de bastão”

ATENÇÃO! O ARTIGO ABAIXO CONTÊM SPOILERS!!!

Finalmente, após árduos dois anos de espera com muita especulação, rumores e receios Star Wars Episódio VIII – Os Últimos Jedi estreou já designado como um sucesso garantido. Em sua exibição na Van Premiere no dia 9 de dezembro de 2017 no TCL Chinese Theatre, em Los Angeles, como é tradicional para as grandes produções de Hollywood, o filme com roteiro e direção de Rian Johnson (Looper: Assassinos do Futuro, 2012), foi ovacionado com impressões muito positivas. Trazendo um alívio para muitos fãs ansiosos e apreensivos, de que esse seria mais uma cópia do Episódio V O império contra-Ataca em razão do episódio VII – O Despertar da Força, ter “homenageado” certos elementos do primeiro Star Wars de 1977. Nessa resenha farei uma análise pessoal, tentando explanar os pontos negativos e positivos do filme, tentando deixar o lado “fanboy” um pouco de lado.

O melhor filme da saga?

O diretor Rian Johnson com o elenco do filme.

O ano de 2017 foi, sem sombra de dúvidas, o ano mais controverso para a franquia Star Wars. Em Junho, os diretores Phil Lord e Christopher Miller foram demitidos do spinoff que tem Han Solo como protagonista e substituídos por Ron Howard. Em Setembro, foi a vez de Colin Trevorrow que seria o diretor e roteirista do Episódio IX. Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, tentou evitar ao máximo a saída de Trevorrow, pouco tempo após a demissão de Lord e Miller, mas o clima entre ela e o diretor era insustentável. Em contra-partida, para a surpresa geral em Novembro a Disney/LucasFilm anuncia que Rian Johnson vai encabeçar o projeto de uma nova trilogia da Saga! Baseada em conceitos e personagens novos. Tendo toda a liberdade criativa para tanto. Isso foi o ponto de partida no sentido de que: Se a Lucasfilm confiou uma nova trilogia a esse diretor, certamente a visão artística do profissional agradou em muito.

Em minha opinião, a decisão da LucasFilm foi bem acertada. De fato, Rian Johnson é o cara certo para renovar Star Wars. Vimos e sentimos os efeitos disso em seu filme Os Últimos Jedi. Agora falando dessa obra em si, o oitavo capítulo da saga dos Skywalkers, cuja trama é de muita qualidade, no entanto, as mais de duras horas de duração do longa pesam no ritmo e fluidez da narrativa. Diferentemente do Episódio anterior, o Episódio VII, onde J.J Abrams nos trouxe um filme muito mais encíclico e balanceado, nesse Episódio VIII, por hora, o espectador fica surpreso e emocionado com certos acontecimentos que vemos em tela, como Leia usando a Força, a relação mestre e aluno entre Luke/Rey e protagonista e antagonista entre Rey/Kylo Ren tendo que, infelizmente, dividir espaço com uma trama fraca e secundária de Finn e Rose em Canto Bight (um novo planeta introduzido) cheia de momentos piegas que poderiam ter sido devidamente “cortados” em alguns pontos. Outro grande ponto negativo foram as lutas de sabre de luz. Tão ruins e/ou pouco inspiradas e mal coreografadas quanto em O Despertar da Força. Embora o momento em que as envolvem sejam enternecedores, mesmo assim faltou um Nick Gillard (coordenador de dublês da trilogia prequel) para levar um pouco mais de paixão e esmero nas lutas de sabres de luz desses novos filmes – pelo menos em Rogue One deixaram Donnie Yen fazer suas coreografias de luta.

Um outro ponto a ser analisado e que talvez seja uma questão de “tendência” são as piadas encaixadas num timing horrível! Principalmente as que envolviam falhas na comunicação entre o piloto da Resistência Poe Dameron e o General Hux da primeira Ordem. Já os famigerados Porgs, dentre outras exóticas e bizarras criaturas apresentadas, não foram um problema como haviam premeditado alguns fãs. As raposas de cristal de Crait (novo planeta), por exemplo, tiveram até uma função dentro da trama. Contudo, o momento de perseguição ala gato e rato entre a Resistência e Primeira Ordem foram dos mais fastidioso em termos de conflito entre facções como: Aliança x Império e Separatistas x República de toda a saga.

A celebração entre gerações

Como em toda boa sequência que se prese, os personagens principais precisam evoluir tanto em termos de amadurecimento quanto o conflito que os cercam precisam ter um maior sentido de urgência. Eles precisam aparentar estar em desvantagem, a trama deve se complicar para que o conflito seja resolvido com o aprendizado obtido no decorrer da história. Isso é básico. Mas Rian Johnson conduz tudo isso com uma maestria e carinho tão grandes pelos personagens (principalmente os clássicos) que fica impossível não se emocionar. Rey deixar de ser a pode tudo e conserta tudo, ingênua, sonhadora, resiliente e solitária do Despertar da Força, para dar lugar a uma Jedi segura, questionadora e muito mais sensível a Força. Ela consegue entender e ser complacente com os dramas e conflitos de Kylo Ren/Ben Solo tanto que seu altruísmo e sensibilidade em compreender as tragédias da vida a faz uma forte opositora ao lado negro, assim como o próprio Luke Skywalker em O Retorno de Jedi.

Rey recusa o chamado das trevas e abraça a luz com determinação e firmeza. Vemos isso tanto no momento em que a garota rejeita o pedido do último Jedi para que não vá atras de Ben, no afã de traze-lo de volta a luz; quanto na recusa do chamado de Kylo para que ambos destruam todas as amarras com o passado e governem a galáxia juntos, a exemplo de Anakin Skywalker com sua esposa Padmé e mais tarde Vader com o filho. Contrariando as expectativas de muitos fãs, a protagonista não cede ao lado negro, assim como Ben não abraça a luz e nem as trevas totalmente. As implicações que envolvem toda essa questão são bem mais complexas. Não temos o conceito de lugar comum teorizado por fãs do Jedi cinza e nem tão pouco outro descendente Skywalker é revelado! Ao contrário, temos outro dos mais discutidos mistérios deixados por J.J. Abrams no episódio VII, finalmente revelado de maneira corajosa e funcional.

Rey é tão somente mais uma poderosa usuária da Força que foi abandonada pelos pais em Jakku, seu planeta natal, em troca de bebidas. Eles inclusive já estão mortos. E a maneira como isso é revelado, além de ter sido uma inteligente homenagem ao Império contra-Ataca, ainda diz muito sobre a psique bem como as auto-defesas criadas pela própria Rey. Outra grande sacada do diretor como artifício de evolução do personagem/vilão Kylo Ren, o forte antagonista desse filme, foi a coragem e a SACADA GENIAL de matar o vilão Snoke! Um vilão jogado e totalmente sem conceito, carisma e imponência vindo de um filme anterior “feito nas coxas” e que graças a Rian Johnson ganhou uma função narrativa muito mais rica e que nos tira da zona de conforto, nos fazendo pensar: “E agora ?”

A trama também explana com esmero, embora hajam flashbacks que fogem da usual e tradicional identidade visual de Star Wars, toda a história envolvendo a destruição da nova Ordem Jedi estabelecida por Luke Skywalker pós-Retorno de Jedi. Vemos um Luke mais velho, traumatizado e decepcionado com toda a mítica e epopeia dos Jedi na Galáxia. Ele sabe e reconhece todos os erros do passado, citando num texto magnífico: Darth Sidious, os Sith, o Império e os Jedi. A visão da Força ganha ares muito mais filosóficos e transcendentes mas ao mesmo tempo palatável e tangível nos remetendo muito mais a Império contra-Ataca com conceitos sobrenaturais explanados por Yoda do que A Ameaça Fantasma com um conceito da Força muito mais “Sci Fi” explanados por Qui-Gon Jinn.

Falando em Yoda, sua participação dispensa comentários. O velho mestre Jedi ainda tem tanto a ensinar quanto o próprio Luke Skywaker tem a aprender. E isso é um tema recorrente nesse filme. Tanto a nova quanto a velha geração tem a ensinar e aprender uma com a outra. Sem detrimento da participação e/ou importância de ambas. Os personagens clássicos são respeitados e os novos evoluem.

Quem é o último Jedi?!

A minha maior expectativa e, consequentemente, o maior receio era para com o personagem Luke Skywalker, de fato, o último jedi. Até antes do final do filme. Mas todo seu arco foi tão bem trabalhado (excelente atuação de Mark Hamill) que não tem como não se emocionar e parabenizar tanto o trabalho quanto direção de atores. Embora a minha expectativa (errônea) de fã quisesse o embate entre Luke e os Cavaleiros de Ren em Ahch-To. Contudo, algo muito mais surpreendente em termos de “poder da Força”, o velho Jedi demonstra nesse filme, num misto de espanto e emoção, a platéia no cinema onde vi foi arrebatada com um incrível feito de Luke Skywalker nesse Episódio VIII.

Agora, respondendo a pergunta feita acima: “ESSE É O MELHOR FILME DA SAGA?”

Difícil dizer no momento. A película é ótima! Foi “maravilhosamente feito,” parafraseando George Lucas sobre o trabalho de Rian Johnson nesse longa. Porém, existem os pontos negativos que também citei acima. É um filme superior ao Despertar da Força em muito quesitos mas inferior em termos de ritmo e narrativa. Enfim, vale a conferência, bem mais de uma vez. Resgata a magia da melhor franquia Nerd/Geek de todos os tempos de forma corajosa, respeitosa e carinhosa. Mais um marco na história cinematográfica da Saga.

NOTA: MESTRE JEDI (4 de 5).

Homenagem de Rian Johnson ?