Review S02E01- The Mandalorian: Episódio 9 x Episódio 9

A segunda temporada de The Mandalorian começou com duas missões quase impossíveis. A primeira, reunir o fandom de Star Wars que se dividiu novamente após o lançamento do Episódio IX: A Ascensão Skywalker em torno daquilo que amamos: Star Wars. E a segunda missão era a de manter o nível e a qualidade da primeira temporada de The Mandalorian.

Após meses de hype, promessas, vazamentos, trailers (após muita espera rsrs), finalmente a segunda temporada iniciou. E ela iniciou de uma maneira bem interessante, já colocando o título de Episódio 9 no primeiro capítulo da segunda temporada, algo pouco usual em séries de TV, mas transmitindo a ideia de que a série não é uma história principal permeada por outras histórias, como vimos por exemplo em The Clone Wars e Rebels.

Neste primeiro episódio vemos Mando à procura de outros mandalorianos, para conseguir ajuda na sua jornada de encontrar a espécie da Criança. E logo no começo temos uma cena no melhor estilo faroeste, com tomadas que lembram aquele justiceiro atravessando as ruas desertas de cidades pequenas no velho oeste norte-americano. A cena de luta dentro do bar já mostra que Mando vai ter que suar o capacete para conseguir sobreviver às inúmeras caçadas, seja de pessoas atrás da Criança ou da sua valiosa armadura de beskar.

Ao anunciar a sua ida à Tatooine para encontrar um Mandaloriano, automaticamente pensamos naquele que divide (novamente) os fãs de Star Wars: Boba Fett! O  caçador de recompensas mais famoso e menos aproveitado em filmes e seriados até agora.

Mando se mostra um personagem evoluído desde o último episódio, com o seu trauma/ódio por dróides sendo extinto após IG-11 ter o curado de todos os ferimentos sofridos na batalha contra Moff Gideon e depois pelo sacrifício de IG-11 para salvar a todos. Isso fica evidente ao autorizar os pit dróides à fazerem reparos na Razor Crest após o pouso em Tatooine.

Antes de continuar com a jornada de Mando, é importante ressaltar o cuidado que a equipe do universo expandido da Lucasfilm está tomando nessa série. Referências é o que não faltam nesse episódio, como a luta entre os gamorreanos no começo do episódio (mostrando como os guardas do palácio do Jabba são poderosos guerreiros), a aparição de R5 (sim, aquele mesmo de Uma Nova Esperança) com o detalhe da explosão e marca de carbono causada pelo seu motivador danificado, o speeder bike feito com um motor do pod que se assemelha muito ao do Anakin em A Ameaça Fantasma, e a aparição do Dragão Krayt, que em Uma Nova Esperança apareceu sob a forma de um esqueleto e que foi citado no livro do Obi-wan Kenobi.

Na jornada de Mando ele encontra o suposto mandaloriano em uma cidade tão afastada que nem no mapa estava registrada. Mas para sua frustração, era apenas o xerife da cidade, Cobb Vanth, utilizando a famosa armadura (ou o que sobrou dela) de Boba Fett. A partir desse ponto, a jornada de Mando toma outro rumo, tentando unir forças para destruir o Dragão Krayt que assola a cidade e seus rebanhos. O xerife aceita dar a armadura, desde que Mando os auxilie a resolver o problema. Nesse trecho do episódio houve uma contextualização importante sobre o que aconteceu com a galáxia após a queda do império, mostrando a tentativa de domínio da cidade, Mos Pelgo, por uma organização de mineração. Se isso aconteceu em Tatooine, é bem provável que o restante da galáxia sofreu o mesmo, e isso mostra novamente a importância de o universo expandido estar bem amarrado, principalmente em eventos de transmídia.

Uma coisa que tem me agradado muito em The Mandalorian é o aprofundamento na cultura dos Tusken, ou o Povo da Areia. Em Uma Nova Esperança, eles aparecem como um bando de saqueadores, em A Ameaça Fantasma aparecem como se fossem sádicos que ficam atirando em corredores de pod apenas por diversão e em O Ataque dos Clones como se fossem sequestradores e torturadores de pessoas que ficam vagando pelo deserto.

Nesse episódio vemos um aprofundamento maior em sua cultura, mostrando sua língua, suas vestimentas e suas estratégias com muito mais detalhes, deixando a espécie como qualquer outra em Star Wars, que estão apenas buscando a sobrevivência. Esses pontos ficam claros em alguns momentos sutis (como aquele em que eles entregam uma espécie de fruta com água para o xerife tomar e ele reclama do cheiro horrível que a fruta tem e um Tusken retruca dizendo que “vocês roubam a nossa água e agora rejeitam o que temos a oferecer”) e em outros momentos mais profundos no episódio, como no pacto feito entre Mos Pelgo e os Tusken, para unirem forças para destruir o Dragão Krayt.

As cenas finais do episódio, mostrando a luta para destruir o dragão mostram novamente o show de efeitos especiais que a série possui. A mistura de efeitos práticos, CGI e os famosos painéis de LED consagrados pela série tornaram o nível de realidade e imersão num patamar senão superior, pelo menos igual às grandes franquias de cinema. É possível ver os detalhes da carcaça do dragão, os disparos de blaster sendo inofensivos, os banthas muito mais reais e o cenário de deserto que é de tirar o fôlego.

Com o plano fracassando e muitas pessoas morrendo, Mando decide mudar a estratégia. Colocando o xerife para chamar a atenção do Dragão (e logo em seguida carinhosamente ativando o jet pack do xerife em uma clara referência à morte do Boba Fett em o Retorno de Jedi) e depois se deixando engolir pela fera para explodi-la por dentro ao melhor estilo Homens de Preto. Com a armadura recuperada e com o Dragão Krayt eliminado, Mando inicia sua jornada de volta à Mos Esley.

É após esse momento que vem talvez a cena mais polêmica do episódio. Boba Fett aparece (após confirmações dos rumores) sem armadura e com várias cicatrizes. No Legends Boba Fett havia sobrevivido à queda no Poço de Sarlacc, mas até então no cânone atual, ele estava morto. Agora podemos criar algumas teorias de como ele escapou de lá. Em o Retorno de Jedi, C3PO traduz os dizeres de Jabba, o Hutt, ao prender Luke. Ele diz: “…onde vocês encontrarão uma nova definição de dor e sofrimento, sendo digeridos lentamente por 1000 anos”. Considerando que a série se passa 5 anos após os eventos de o Retorno de Jedi e que a armadura de beskar é extremamente resistente, é possível que Boba Fett pudesse ter encontrado um jeito de sair de lá antes de morrer.

Esse episódio pode ter dado uma pista do que aconteceu. Em um determinado momento, os Tusken dizem que o Dragão Krayt está morando em um poço de Sarlacc abandonado. O xerife reforça que não existe poço de Sarlacc abandonado e Mando retruca dizendo “Existe se o Dragão comeu um”. Podemos imaginar que nessa briga entre Sarlacc e Krayt, Boba Fett pode ter encontrado uma brecha para poder sair. Mas isso são apenas especulações, vamos aguardar os próximos capítulos.

De uma maneira geral, gostei muito do episódio, já que explorou pontos muito interessantes do universo Star Wars, além de trazer algumas surpresas satisfatórias. Mas de longe não é o melhor episódio da série. E confesso também que talvez tenha ficado um pouco abaixo do que eu esperava, após tantos meses de expectativas. Acredito ser esse o principal problema do fandom de Star Wars atualmente: expectativa. Muitas vezes queremos algo incrivelmente novo, ou mais do mesmo, ou algo que amamos e isso gera muita expectativa. E quando essa expectativa não acontece, temos uma frustração que mina a nossa paixão pela série. Há quem diga que o episódio 9 de The Mandalorian foi melhor que o Episódio IX: A Ascensão Skywalker, mas acredito que os dois sofreram do mesmo mal: expectativas.