Star Wars Rebels terá mais aventura que Clone Wars, diz produtor da nova série
A convite da Disney, o pessoal do Omelete esteve em San Francisco, nos escritórios da Lucasfilm, para assistir ao filme que apresenta a série animada Star Wars Rebels e também um episódio da primeira temporada, o sexto, que mostra o primeiro confronto entre os rebeldes e o principal vilão da série, o Inquisidor.
Durante a visita, falaram com o produtor-executivo e diretor Dave Filoni, que comentou os temas da série, os elementos revelados até agora, o que permanece em relação à sua série animada Clone Wars e as conexões com o restante da franquia no cinema. Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Filoni:
No episódio seis que vimos aqui na Lucasfilm, surge esse personagem que se parece demais com o ator David Niven… É uma homenagem?
Sim. Foi um tipo de homenagem a David Niven, é um desses fatos engraçados quando você desenha. Arquétipos de atores famosos sempre servem de inspiração. Ele [Niven] nesse molde de Alec Guinness ou de Peter Cushing, é o tipo de ator clássico que seria um ótimo membro do elenco de Star Wars.
Rebels acontece logo depois do Episódio III, então seriam 18 anos antes do Episódio IV?
Não, é bem o contrário. Nós estamos 15 anos depois do Episódio III e uns cinco antes do Episódio IV. Então nós estamos muito mais perto do filme de 1977.
Então eu acredito que nós veremos algumas versões mais novas de personagens do Episódio IV?
Talvez, nunca se sabe… Nós tentamos não fazer um universo muito pequeno. Nós tentamos construír esses personagens e estamos focando neles. A ideia de que os Rebeldes estão pesadamente organizados ainda não aconteceu.
Depois da tomada de poder, o Império ainda é visto como uma coisa boa para a galáxia. Com a Guerra dos Clones todo mundo pensava que a galáxia era fraca e isso causaria guerras e então, superando esse problema, eles abrem mão de parte da sua liberdade e a democracia vira um império. Então a princípio as pessoas acreditam que o autoritarismo é bom e depois, com o tempo, essa força passa a ser vista como um mal.
E os planos de Palpatine pra realmente controlar tudo não funcionam de fato até ele construir a Estrela da Morte. Uma vez que ele constrói a Estrela da Morte, ele tem o controle de tudo.
No final do Episódio II a gente vê a construção da Estrela da Morte. Então quantos anos demorou pra ser feita?
Acredito que demorou um bom tempo. Nós sempre brincamos sobre isso. Parece levar um bom tempo para construir a primeira, já a segunda… Uma vez que você já construiu uma, você já sabe como fazer. Na minha cabeça eu acredito que eles provavelmente sempre planejaram construir mais de uma. Então a segunda deve ter dado certo e a primeira era mais como um protótipo.
Eu estava falando sobre isso com alguém um outro dia, sobre a realidade da Estrela da Morte. Se você tivesse um amigo na estação de trabalho pra construir essa estrela, talvez você trabalhasse em São Francisco e ele no Japão. Você vai vê-lo alguma vez? Pra você ir de um lado para o outro você provavelmente precisaria planejar uma viagem.
Agora que você está chegando perto da trilogia original, você tem menos liberdade pra criar novos personagens do que tinha em Clone Wars?
Eu acredito que não. A liberdade que havia em Clone Wars era mais em relação a criar o arco dos personagens. [Em Rebels] dependendo do lugar onde nossos personagens estejam, eu não acho que nossos eventos se confrontariam diretamente com Luke Skywalker ou algum desses personagens [já conhecidos]. Nós podemos escolher depois se nós queremos isso ou não. A galáxia é tão grande que inventar novos personagens é essencial para a longevidade de Star Wars. É preciso sair e criar muitos personagens e lugares e criaturas ou qualquer outra coisa.
Você pretende manter o mesmo estilo de Clone Wars, fazer novas referências e trazer criaturas clássicas?
Eu acho que é uma mistura de tudo. Se você faz algo e as pessoas gostam, então isso se torna conhecido. E se elas odiarem, elas vão esquecer. Você espera a reação das pessoas. Ninguém tinha visto um Snowalker antes, ou um Minex, nós trabalhamos em criar extras, e tudo o que a gente está vendo [nesta série] é uma experiência paralela aos personagens originais.
Star Wars sempre é melhor quanto está apresentando novas coisas e novas ideias. Como eu disse, expandindo aquele mundo. Então você não está simplesmente resgatando personagens que já existem, você está colocando-os em frente a novos desafios e rostos que eles nunca viram. Você se preocupa com o que acontecerá com eles, e por isso que nós criamos novos stormtroopers, pilotos de bikes diferentes etc.
Isso faz você sentir que o Império também desenvolve sua tecnologia. Nós usamos algumas tecnologias que não estão presente em todos os filmes, porque assim parece que tem um período de tempo de 20 anos em que eles tiveram uma transição militar da era de Guerra dos Clones pra essa era pré-Estrela da Morte. Tem a formação militar toda. O exército só fica mais forte e os rebeldes tentam se juntar e encontrar qualquer coisa que eles consigam pra lutar.
O Inquisidor é um sith? Ele utiliza a Força e mostra que sabe bastante dos jedis…
Eu não vejo ele como um sith. Eu não vejo ele como uma figura poderosa à altura de Darth Vader. Eu vejo ele como um cão de caça, como um caçador que tem a tarefa de sair e encontrar os jedis que estão pelo universo. E isso é um problema crescente para o Império, porque as crianças estão nascendo o tempo todo e elas têm potencial para usar a Força e se tornar jedis. Assim, ele quer que todos sejam derrubados. O Inquisitor está ajudando Vader a fazer isso.
Ele sabe que Kanan estava sendo treinado, porque eles chegaram no templo [jedi]. Quando o Imperador destrói os jedis ele toma seus templos e, de repente, eles têm acesso a todas as informações sobre os jedis. O Inquisidor os caça basicamente memorizando os caminhos e sabendo quem eles [os jedis] são. Então quando ele luta contra um jedi que não diz seu nome, ele consegue descobrir quem é pela maneira de lutar, pela idade, de onde é… Uma vez que ele [Inquisitor] aprende seu nome, ele vai saber tudo sobre você: quanto você foi treinado, quem foi seu mestre, e eles vão descobrir todas as outras conexões com os outros jedis.
Por hora, nós estamos mantendo a maioria dos segredos em torno do Inquisidor, e nós estamos revelando mais conforme nós vamos adentrando. “Quem ele é? O que ele sabe? Por que ele sabe o que sabe?” Uma das coisas que eu gosto em Vader é que [no começo] havia um mistério muito grande sobre quem ele é. Mesmo quando eu era criança, as pessoas não sabiam se ele era um robô ou não. Então eu acho que tem muitas coisas que a gente não quer que o público saiba de uma vez.
Ele será o único vilão?
O oficial Kallus é com certeza um vilão. A razão para nós não termos um Darth Vader é porque ele é uma grande coisa, e nosso rebeldes não são. Seria como convocar um batalhão militar pra lutar contra um vira-lata. Nossos rebeldes ainda não fizeram nada, mas se eles causarem muitos problemas, talvez Vader receba um telefonema. O que seria ruim para eles, porque não consigo imaginar eles enfrentando Darth Vader.
E como é criar um novo vilão?
É difícil, porque Darth Vader é o maior vilão de todos, então todo mundo tenta ser Darth Vader e nenhum deles nunca será tão bom quanto Darth Vader. Então todos têm que encontrar coisas que fazem deles únicos, e trocar qualidades que Vader não aparenta ter, assim se faz com que eles sejam independentes.
As pessoas chegam inicialmente para trabalhar em Star Wars e pensam: “Nós vamos dar a ele um capacete legal e uma voz sombria“. Essa pessoa acabou de descrever Darth Vader. Nós já temos esse, não precisamos de dois.
Então foi legal criar esse Inquisidor mais elegante, mais veloz. Jason Isaacs fez um trabalho maravilhoso [na dublagem]. Eu acho que o Inquisidor soa como um homem muito educado. Ele não grita, ele fala num tom muito moderado. Eu acho que quando você percebe que ele é muito inteligente, isso faz dele mais poderoso do que se ele fosse apenas bravo e estourado.
E quantas propostas de design vocês cogitaram para o Inquisidor?
Nós tivemos uma boa quantidade. Eu acredito que quanto mais simples [o design] melhor. É sempre difícil com vilões. Por que eles sempre têm que ter tanta cara de vilão? O império já tinha aquele uniforme do Darth Vader preparado para o Anakin? Eles já sabiam? Sabe, é sempre um roupa de um samurai do mal… É sempre de preto e com coisas que tenham espinho.
Será que nós não podemos tentar criar algo lógico para que o traje do Inquisidor se pareça mais com uniformes? Ele parece mais com um militar. Ele está naquele meio fio entre Igreja e Estado. Ele está contra a força, mas ele está preso ao militarismo em certo grau. O principal foco dele é derrubar os jedis, ele não liga muito para os rebeldes. Ele não acredita que eles sejam uma ameaça de verdade. Gente como a Hera [piloto da nave dos rebeldes] são peixe pequeno para ele.
E onde entram os jedis nessa história paralela?
Eu acho que o grande problema dos jedis é a crise de fé. Eu acho que tem muitos jedis sobreviventes que simplesmente decidiram abaixar seus sabres de luz e parar de lutar. Porque eles acreditam que eles ajudaram na construção do Império, mesmo que eles não tivessem a intenção. Nós não queríamos vários jedis correndo soltos nessa era, isso com certeza.
A ideia é que o tom seja mais político, como na Guerra dos Clones, o mais de aventura? Que lado você está tomando?
Nós estamos inclinados mais para o aventuresco. Foi uma escolha pensada. Antes, nós fizemos algo em escala galática então você tinha que entender como essas coisas aconteceram e como elas fizeram o Império ascender. Em Clone Wars nós continuamos isso porque a gente queria explicar em detalhes, e nós tinhamos tempo, pra falar sobre a mecânica da política. Em Rebels nós queremos fazer mais a linha Flash Gordon [de aventura]. A política está presente, só que no plano de fundo. Há política no Episódio IV, tem toda a burocracia, mas você não vai ao senado, você não vê isso acontecer. Você é só uma criança vendo Vader sufocar alguém e você pensa: “Nossa, isso é incrível“.
Nesta nova série a politica está mais no plano de fundo e eu acho que isso é característica do período de tempo em que a história se passa. Porque os nosso personagens não são importantes o suficiente pra se envolverem em política. Eles só querem sobreviver. Então a grande mudança no tom entre Clone Wars e esse programa, é que em Clone Wars nossos heróis sempre estão correndo em direção ao perigo, porque eles são mais poderosos. E agora eles [os rebeldes] estão sempre tentando fugir do perigo. Porque eles não têm o poder de enfrentar o Império. Ele está por toda parte, massivamente.
– Star Wars sempre está relacionado com merchandising, brinquedos… Gerge Lucas teve a visão de fazer isso, e neste caso vocês também falaram com desenvolvedores de brinquedos para criar e dar ideias ou é um departamento completamente diferente?
Na realidade, não. Quando fizemos Clone Wars nós não pensávamos muito nisso. E eu acho que o porquê de não se preocupar tanto com isso é que nós só queremos fazer coisas muito interessantes. Chopper [o androide inédito similar a R2-D2] daria um bom brinquedo. Nós faríamos os personagnes de qualquer jeito. Mas eles não chegam pra mim junto com uma lista de pedidos.
Você não está usando brinquedos pra criar uma história, você está contando uma história e ai alguém encontra um brinquedo que funciona bem com isso. George nunca fez isso durante nossa colaboração. Durante todos os anos que nós trabalhamos juntos em Clone Wars, nós nunca criamos algo só porque poderia virar um bom brinquedo. No entanto, a gente sabia que isso poderia acontecer. A gente só não fica planejando.
Você pensa em fazer um sabre de luz legal e isso vira um brinquedo legal. E todos queremos isso. Como a gente gosta de brinquedos, a gente acaba pensando: “Mal posso esperar pra ter esse bonequinho“, mas isso não é razão pela qual fazemos. Você faz porque é um personagem legal e, depois, você entra numa loja e ela está cheia de coisas de Star Wars Rebels. E você fica: “UAU”.
No sexto episódio a que assistimos, eles regulam a altura do sabre. E isso é uma grande coisa inédita no cânone, certo? É o tipo de coisa que você tem que ligar para George Lucas primeiro e pedir autorização?
Não, a gente não precisa mais ligar para ele [risos]. A regulagem do sabre é uma coisa que nós ouvimos das crianças. Eu acredito que tinha algo em algum livro que falava em ajuste das lâminas dos sabres, e eu pensei em fazer isso, porque o personagem [Ezra, na série] é uma criança e isso faz sentido já que o sabre normal é pra adultos. Tem uma lógica por trás disso.
Mas não é como se tivesse um grupo de pessoas responsáveis por essas decisões que você tem que consultar?
Na verdade não, eu trabalhei tanto em Star Wars que eu tenho uma noção sobre o que funciona e o que não. E nós temos um grupo interno responsável pelas histórias, em que a gente discute coisas se alguém não gostar. Mas geralmente a gente gosta e desgosta das mesma coisas. É engraçado. As coisas que funcionam em Star Wars são realizáveis e possíveis de se acreditar. Se você pode acreditar que aquilo seria parte de um sabre de luz, então faz sentido.
O jedi Kanan sabe que Yoda está vivo?
Eu acredito que não. Eu não acho que muita gente saiba, porque se muitas pessoas soubessem então o Impérico ficaria sabendo também. E depois eles iriam caçá-lo. Eu acredito que o Imperador tenha uma idéia de que Yoda está vivo, mas eu não acho que o Império sabe que o Yoda está na cola deles e observando eles por um bom tempo, obviamente. Como eu disse, muitos jedis desapareceram e nunca mais foram vistos. Além disso, Kanan – vocês verão com o passar do tempo – não tem sido o melhor jedi, por pouco ele nem seria um jedi. É por causa de Ezra que ele se inflama para tentar recuperar o que ele perdeu de si mesmo.
Ele parece jovem, como se devesse ser na verdade um padawan…
É bem possível, vocês estão fazendo as contas e isso é muito interessante.
Fonte: Omelete