Dooku: Jedi Lost – Dualidade Ideológica em personagens de SW

“Aprofunde-se na história do sinistro Conde Dookan neste áudio-drama original de uma galáxia muito distante…”

É assim que a Random House Audio nos introduz ao primeiro áudio-drama feito pela grande empresa que nos deu Star Wars. A produção foi lançada no dia 30 de abril, é escrita por Cavan Scott – um dos autores escolhidos para o futuro Project Luminous – e conta com um grande elenco de dubladores.

A capa do audiodrama Dooku: Jedi Lost com Asajj Ventress e Dookan

A história nos conta, pelo ponto de vista da ex-jedi, ex-sith e ex-caçadora de recompensas Asajj Ventress, como foi o caminho de Conde Dookan pela academia Jedi e porquê ele decidiu abandonar o caminho da Luz para se tornar o grande Darth Tyranus. Com maestria, Scott nos mostra várias facetas de Dookan: o Conde de Serenno, o líder dos Separatistas, o aprendiz e o Mestre. É incrível o fato de que, pelos olhos de sua aprendiz, Asajj, conseguimos nos empatizar com o inimigo em momentos que não esperávamos.

Após ter ficado imersa no drama por horas a fio no dia do lançamento, confesso que tive que “sentar e mastigar” a história contada. O tema é familiar: a ambiguidade de pensamentos que a Academia Jedi traz para seus membros e como cada um deles lida com eles.

O audiodrama é quase um inverso perfeito de “Master & Apprentice” (o qual recomendo fortemente a leitura antes de se aventurar no drama) de uma das autoras favorita dos fãs, Claudia Gray, mostrando-nos quão fácil é para um aprendiz se espelhar em seu mestre e suas atitudes, mas também vê-lo como ameaça quando infligido medo. A volta de Rael Averross também é um dos motivos pelo qual indico a leitura de Mestre & Aprendiz antes do áudio, afinal somos apresentados ao famigerado “primeiro aluno” de Dookan na Academia. Rael tem a personalidade mais incrível e multifacetada que já li desde Asajj Ventress. Averross é fluido, entende o seu lugar em cada situação e sabe como sair de enrascadas – tudo o que um aprendiz de Dookan deve saber, para ser sincera. E assim, o Mestre escolhe Averross como aprendiz. O aluno, por sua vez, assim como o seu novo mestre, é invencível no combate entre sabres, inteligente, astuto e também lembra um pouco de seu passado antes de ingressar à academia. O personagem de Averross é um guia/espelho para Qui-Gon Jinn nesta época. Seus pensamentos “não-tão-ortodoxos” assim, inspiram o jovem Jinn, batendo de frente com o lado ultraconservador de Dookan.

Qui-Gon Jinn e o jovem Obi-Wan Kenobi em “Master & Apprentice”

Volte a leitura em algumas linhas e perceba quando escrevo que Rael “lembra um pouco de seu passado antes a Academia”. Bom, Dookan também lembra de seu passado e é isso que a história irá contar à partir de agora.

Guerras Clônicas. Asajj Ventress é a nova assassina do temido Darth Tyranus e deve agir sob seu comando em todos os momentos. O Mestre, pede à Ventress para localizar e proteger Jenza, personagem que acabara de ser sequestrada e a qual somos surpreendentemente apresentados como irmã de Dookan. Durante sua caça, acompanhamos as descobertas de Asajj Ventress e dentre essas, holos de comunicação de Dookan com Jenza, provando que eles mantiveram contato durante anos. Nessas conversas, a irmã da noite descobre como a personalidade e costumes de Dookan mudaram durante os anos, como ele nem sempre foi o temido Tyranus. Honestamente, algumas conversas entre Dookan e Jenza, me lembraram conversas de Cersei Lannister e Jaime Lannister – não necessariamente pelo incesto – pelo o excesso de carinho e proteção.

A “história de origem” é intensa. Dookan, nascido em Serenno dos pais Conde Gora e Condessa Anya, foi descoberto como sensitivo da Força pelo pai. Gora, conservador ao extremo, acreditou que o filho fosse uma aberração para a sua linhagem e abandonou o próprio filho. Dookan foi descoberto pelos Jedi e levado para ser treinado no Templo. 

A infância e adolescência do futuro Conde é repleta de aventuras e trapalhadas com amigos fiéis, o fazendo virar o “amigo pai” do grupo. Entre seu grupo de amizades, vemos o jovem Sifo-Dyas como o amigo trapalhão e bobo do clã de Dookan. 

Lene Kostana, mestre do Templo, jedi e pesquisadora de relíquias antigas da era dos Sith era a pessoa que Dookan mais admirava. Diversas vezes deixou claro que estudava para ser acolhido por ela para treinamento e aprendizado. Porém, os olhos de Kostana fixaram em Sifo-Dyas e ela o escolheu como aprendiz. Yoda, por sua vez, percebeu algo diferente no jovem de Serenno e o acolheu no momento em que ele via-se desapontado.

Dookan sabia que seu caso era único. Era raro no Templo um Grão-Mestre acolher um Padawan para treino. O começo foi difícil e o jovem teve até vergonha de dirigir suas perguntas para o novo professor. Ao passar do tempo, a falta de conteúdo e de estudos deixou-o incomodado… até perceber que isso fazia parte de seu primeiro aprendizado: Yoda estava ensinando-o a ter paciência.

Como sabemos, ninguém mantém segredos de Yoda por muito tempo. O Mestre descobriu a ligação de Dookan com familiares, agora já crescidos. Os desentendimentos frequentes, tornanam-se rotina entre os dois e mesmo assim, Dookan e Jenza mantiveram contato às escondidas, completamente contra aos ensinamentos da Ordem Jedi.

Mestre Yoda o proibiu de manter contato com sua família e Dookan fez uma promessa sabendo que iria quebrar, falando que não iria mais contactar a irmã. A morte de Anya, Condessa de Serenno, abalou o filho. Pensando em Jenza, Dookan partiu para seu planeta natal e, ao chegar lá, confrontou o pai, o Conde Gora. Anos se passam, Jenza e o irmão não se conversam mais devido a briga familiar.

A guerra está começando e Serenno, agora comandada pelo irmão de Dookan, está se autodestruindo em revoltas populares. Com Ramil no trono e revoltado com os Jedi por não o apoiarem na ajuda ao seu planeta natal, Dookan parte com a Mestre Kostana e seu melhor amigo Sifo-Dyas (agora atormentado por visões assustadoras do lado negro da Força) para seu lar.

Serenno, planeta natal de Dookan, Ramil e Jenza

Ramil acaba perdendo o trono para Dookan e, nesse processo, o então Conde de Serenno desperta pela Força uma antiga criatura Sith (muito parecida com um dragão) que pode-o sentir pelo poder. Serenno sempre fora independente e essa criatura era uma das provas disso. Os ancestrais de Dookan, Jenza e Ramil lutaram contra a Besta e os Sith sem a ajuda de nenhum Jedi. O acordar desse tipo de criatura assustou a todos. 

O animal era violento e forte, Dookan, mesmo admirado pela fera, teve que matá-la para conseguir pará-la e reaver controle da situação.

Serenno estava livre mais uma vez, mas seu comandante continuava sem acreditar nos Jedi. Dookan decidiu então subir ao cargo de Conde de Serenno oficialmente e abandonar a Ordem Jedi de uma vez por todas, até porque sua imagem estaria abalada entre o Templo.

Jenza, apesar de amar profundamente o irmão, viu que o poder e a Força dentro dele estavam indo para um caminho pelo qual ela não poderia acompanhar. Com muita dor, Jenza procurou ajuda dos Jedi.

Asajj então percebeu que a missão não era apenas de localização, ela teria que encontrar e matar Jenza pelas ações que a irmã de Dokan tinha tomado contra o Conde de Serenno. Esse era o ponto de mudança de Dookan para Darth Tyranus: a morte da pessoa que ele mais amava em toda a galáxia. Só a morte o livraria de sua maior fraqueza para seguir no caminho escuro da Força.

Como grande fã de Asajj Ventress, escutar esse drama foi um prato cheio para preencher certas lacunas que vejo na personagem. Asajj compara seu antigo mestre, Ky Narec, com Dookan a todo momento. A dualidade ideológica que ela pensa ser apenas dela, é praticamente institucional. É isso que faz com que os personagens de Star Wars saibam o caminho para seguir em frente. Ao mesmo tempo, somos apresentados a vários personagens que são fluidos e sabem “dançar” entre os caminhos da Força, como Rael Averross, Qui-Gon Jinn e Sifo-Dyas – o último não com tanta sorte, afetado por visões sombrias. 

Ventress sabe que está perdida, assim como Dookan esteve, mas ela é muito arrogante para admitir. O espírito de Ky “atormentando” a mente da irmã da noite deixa isso claro como água.

Asajj Ventress sente a presença de seu primeiro mestre, Ky Narec, durante a história do audiodrama

Se você é fã do personagem Darth Tyranus e/ou do Conde Dookan, esse audiodrama vai ser uma montanha-russa de emoções. Ao mesmo tempo que acalenta o seu coração, ele tem a certeza de destruí-lo em pedaços. Creio que o fato de terem optado por uma produção em áudio, ajuda nessa parte. Os dubladores fazem com que a história contada por Cavan Scott seja o mais real possível, te fazendo imaginar os cenários mentalmente e criando uma empatia absurda nos momentos sensíveis e raiva em partes conflituosas.

Se você leu este artigo até aqui, parabéns! Aproveitar o audiolivro vai ser mais fácil que essa leitura, eu prometo. Realmente indico que leiam “Mestre e Aprendiz” da Claudia Gray antes de ouvir o drama, mas não é obrigatório. As histórias de ambos se complementam de forma perfeita, o que me deixa ainda mais animada para o Project Luminous que vem por aí.

Se você leu o livro ou sabe da história, deixe aqui nos comentários o que achou do desenvolvimento dos personagens! Vamos conversar sobre esses elos entre personagens e suas danças entre caminhos da Força!